A luta dos quilombolas do ES contra a Suzano

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Em entrevista à Mongabay com  os quilombolas, Beatriz recorda ter sido surpreendida por um avião sobrevoando a casa da comunidade e pulverizando pesticidas: “Não sabíamos, [ninguém] nos avisou nem nada.

Jogaram veneno, mas ele circulou dentro da propriedade das pessoas”.

A certa altura, Beatriz foi atingida por agrotóxico: “Caiu em mim e meu braço coçou”.

E sua fazenda também foi destruída no processo: “Perdi a abóbora, perdi o milho…”

Afinal a comunidade quilombola de Linharinho está localizada no município de Conceição da Barra e faz parte de uma região do Espírito Santo conhecida como Sapê do Norte.

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Onde existem 32 quilombos reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares.

Segundo relatos da comunidade, a Suzano, líder mundial na produção de celulose de fibra curta, tem realizado nos últimos anos pulverizações aéreas de agrotóxicos em suas plantações de eucalipto na periferia da comunidade, sem comunicação prévia e violando as Normas de Segurança.

Distância regulamentada pela Instrução Normativa nº 2/2008 do Ministério da Agricultura, que restringe o uso da aviação a distâncias inferiores a 250 metros de residências isoladas.

Os residentes disseram à Mongabay que o avião passa tão perto das suas casas que os pesticidas por vezes atingem os seus corpos.

Campos e rios, levantando preocupações sobre a segurança do consumo de alimentos cultivados localmente e água de fontes naturais, devido aos potenciais riscos de contaminação.

Aplicações

O problema começou no final de 2017, quando a então Fibria Celulose convocou uma reunião em Linharinho para anunciar o início das aplicações aéreas na região.

Em resposta, a sociedade solicitou à empresa que, antes de iniciar a pulverização, seria necessário ter abertura sobre os produtos e a forma como foram utilizado.

Bem como apresentar laudo técnico comprovando a segurança do procedimento.

Portanto, foi acordado em 11 de outubro do mesmo ano que o uso do ar em talhões de eucalipto na periferia da comunidade só deveria ocorrer mediante apresentação desta informação.

A Fibria rompeu o acordo após seis dias e realizou o procedimento sem esclarecer as demandas da comunidade e desrespeitou a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante consulta prévia aos povos tradicionais sobre qualquer projeto que possa afetar seus territórios e maneira da vida.

Em 2018, o grupo Suzano S/A incorporou a Fibria, mas segundo Leovegildo dos Santos Evangelista, quilombola de Linharinho.

Mudanças para os quilombolas 

Os problemas persistem apesar da mudança.

Leovegildo disse à Mongabay que também sofreu perdas devido à pulverização: “Tínhamos uma plantação de abóboras e uma plantação de bananas; Ficou amarelo e acabou com tudo.

” Ele descreve que quando suas plantas foram pulverizadas, o pesticida “amarelou as folhas.

E, quatro dias depois, parece que começou um incêndio.

Ele matou tudo – todas as minhas bananas que estavam produzindo”.

Leovegildo lembra que sua filha foi atingida durante o incidente: “Quando o avião passou pela manobra, esse veneno caiu na minha filha.

Deu dor de cabeça nela e bateu nela, e até hoje ela está em tratamento.

Afinal a operação da minha menina hoje vale 30 mil reais. Isso libertou a retina de sua visão.”

Os sintomas descritos à Mongabay por vários membros da comunidade são consistentes com os sintomas de envenenamento agudo por pesticidas comumente encontrados em vários ingredientes ativos.

Conforme relatado pelo índice da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).

Além disso, o consumo contínuo de água e alimentos contaminados pode levar ao desenvolvimento de problemas crónicos de saúde.

No caso da filha de Leovegildo, um estudo publicado no International Journal for Molecular Sciences relaciona a toxicidade de pesticidas a problemas de retina.

Segundo o artigo, danos ao tecido ocular podem ocorrer pelo contato direto com a substância ou pelo consumo de alimentos contaminados.

Conclusão

Entre as possíveis causas estão dois princípios ativos de uso comum no Brasil: o inseticida clorpirifós e o herbicida glifosato.

Sendo assim em relação aos danos às plantações em fazendas quilombolas.

Afinal a literatura científica indica que o uso inadequado e a aplicação incorreta de determinados herbicidas podem causar amarelecimento, murchamento e até morte das plantas.

Sendo assim as queixas da comunidade sugerem fortemente a possibilidade de uma violação grave e contínua dos direitos humanos.

O que requer uma investigação rigorosa apoiada por testes laboratoriais conclusivos.

Na UE, a utilização de pesticidas no ar foi proibida desde 2009 devido aos potenciais danos à saúde humana e ao ambiente.

Um problema associado ao procedimento é a chamada deriva, fenômeno em que a mistura de pesticidas pulverizada se desvia do alvo pretendido.


Fonte de informação: brasil.mongabay.com