Acabar com as salvaguardas ambientais do país

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Uma comissão do Senado brasileiro – camuflada pela turbulência política em Brasília – aprovou discretamente uma emenda constitucional que elimina as medidas de salvaguardas atualmente exigidas para obras públicas. 

Alteração poderá dar luz verde e aprovação rápida a grandes projetos de infraestrutura em todo o país, incluindo o polêmico projeto hidrelétrico de São Luiz do Tapajós.

Tal medida poderia destruir a vida selvagem e o ambiente do país e causar danos significativos aos grupos indígenas.

Organizações ambientalistas descobriram tardiamente, no dia 27 de abril, que a Comissão de Constituição.

Justiça e Cidadania aprovou uma emenda constitucional (PEC 65), que estabelece que se um empreiteiro executar obra pública.

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O projeto não poderá ser suspenso ou cancelado, desde que o empreiteiro apresente uma avaliação básica do impacto ambiental.

Na prática, esta lei aboliria o atual processo abrangente de licenciamento ambiental do Brasil, que avalia cuidadosamente a viabilidade ambiental dos projetos de infraestrutura.

Grupos ambientalistas, horrorizados com o potencial impacto nas comunidades locais e na biodiversidade do país.

Estão a organizar um esforço de última hora para impedir que esta alteração seja aprovada no Congresso.

O político que lidera o esforço para aprovar a PEC 65 é o senador Blairo Maggi.

O ex-governador do estado de Mato Grosso é dono do grupo Amaggi, grande empresa que produz, colhe e exporta soja.

Outra de suas empresas desenvolve infraestrutura para o setor da soja, como construção de terminais, estradas e hidrovias.

Posição privilegiada

Maggi está, portanto, em posição privilegiada para se beneficiar economicamente, e em grandes quantidades.

Construção de barragens e canais propostos para a bacia do Tapajós, na Amazônia, que facilitarão o transporte de soja do interior para um novo porto na costa brasileira .

Com o objetivo de exportar soja internacionalmente, especialmente para a China, através do canal proposto para a Nicarágua. Ironicamente.

A mudança proposta por Maggi veio poucos dias depois que o IBAMA, órgão de licenciamento ambiental do Brasil, rejeitou a licença para a construção da barragem de São Luiz do Tapajós, na bacia do Tapajós.

Tal acção será praticamente impossível se esta alteração for aprovada.

Os senadores brasileiros defenderam a mudança em um documento de três páginas, no qual afirmaram que “a proposta é uma inovação jurídica.”

Uma vez que não permite “a suspensão de uma obra pública ou seu cancelamento após a apresentação de um avaliação de impacto ambiental, salvo casos excepcionais”.

Afirmam ainda que a razão da mudança é “garantir celeridade e contenção de custos nas obras públicas”.

Atualmente, existem três fases na avaliação ambiental de um projeto público no Brasil.

A primeira fase consiste na concessão de uma “licença provisória”, que é uma autorização para avaliação de impacte ambiental.

Projeto de acabar com os salvaguardas 

Depois disso, caso o projeto seja considerado viável, é emitida uma “licença de instalação”.

O trabalho é então monitorado e outras condições podem ser impostas.

Somente após a emissão de uma terceira licença – a “licença de operação” – o projeto poderá iniciar suas operações.

O mesmo procedimento é exigido para todas as obras públicas, seja uma estrada, uma barragem hidroeléctrica ou uma plataforma petrolífera.

Caso a PEC 65 seja aprovada, as três fases ficarão redundantes.

Afinal a mudança proposta está causando consternação entre os ambientalistas.

O Instituto Socioambiental (ISA), uma importante ONG brasileira, emitiu um comunicado dizendo que “se a PEC 65 for aprovada, isso terá muitas consequências negativas”.

Afinal a ISA previu que sem medidas para prevenir e mitigar os impactos negativos das obras públicas, o Brasil teria que enfrentar muito mais desastres socioambientais.

Como o de Mariana, no estado de Minas Gerais, onde em 5 de novembro de 2015, uma barragem, contendo os restos de minério de ferro desabaram.

Matando 19 pessoas e causando danos ambientais extensos, dispendiosos e de longo prazo no Rio Doce.

Os promotores brasileiros exigiram recentemente uma enorme compensação financeira, na ordem de R$ 155 bilhões (US$ 43,7 bilhões), do grupo minerador BHP Billiton e de sua parceira Vale.

Como em muitos países, a aprovação de uma emenda constitucional no Brasil é um procedimento complexo de várias etapas.

Conclusão

Geralmente leva muito tempo, permitindo supervisão e comentários públicos.

Antes de virar lei, a PEC 65 precisa ser aprovada pelo plenário do Senado.

Em seguida segue para a Câmara dos Deputados, onde se aprovado retorna ao Senado para ser novamente aprovado; e, finalmente, o presidente tem a capacidade de exercer o direito de veto.

Em circunstâncias normais, isto proporcionará tempo suficiente para debate.

Na verdade, houve uma tentativa em 2012 de aprovar a mesma alteração, mas foi interrompida.

Mas com o Congresso completamente absorvido no actual esforço para destituir a Presidente Dilma Rousseff, pouca atenção está a ser canalizada para outras questões, incluindo mudanças constitucionais.

Ninguém sabe quem será o presidente do país quando ou se a PEC 65 chegará à sua mesa para assinatura (aprovação) ou veto.


Fonte de informação: brasil.mongabay.com