Por que quenianos e etíopes correm tão bem?

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Quando pensamos em corredores de elite, muitos nomes vêm à mente, mas alguns se destacam, especialmente os quenianos e etíopes.

Países da África Oriental, eles dominaram as pistas de atletismo e as maratonas internacionais por décadas.

Desde as competições em distâncias mais curtas, como os 5.000 metros, até as maratonas, onde a disputa pela medalha de ouro tem sido, muitas vezes, uma luta entre corredores dessas duas nações, a supremacia de atletas desses países é um fenômeno fascinante.

Mas, o que exatamente explica o sucesso de quenianos e etíopes nas corridas de longa distância?

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Existem fatores físicos, culturais e ambientais que contribuem para essa habilidade única de correr tão bem? Vamos explorar esse fenômeno.

1. Fatores Genéticos: A Base Física

Há um consenso entre estudiosos de que a genética desempenha um papel importante no sucesso de corredores de longa distância, como os quenianos e etíopes.

Muitos atletas dessas duas nações possuem características fisiológicas que favorecem o desempenho em corridas de resistência.

Uma das principais características é o tipo de corpo.

Em particular, os corredores quenianos e etíopes tendem a ter pernas mais longas e torsos mais curtos, o que é uma vantagem na eficiência da corrida.

Esse tipo de estrutura corporal ajuda a maximizar a amplitude da passada e a reduzir o consumo de energia durante a corrida.

Além disso, os pés e pernas longas permitem que eles cubram mais terreno com menos esforço, fator que é crucial em corridas longas.

Outra característica importante é o volume de hemoglobina.

Estudos mostraram que corredores dessas regiões possuem uma capacidade superior de transportar oxigênio pelo corpo.

Isso ocorre devido a adaptações fisiológicas específicas, como o aumento da capacidade pulmonar e cardíaca ao longo de sua vida, resultado de seu ambiente e estilo de vida ativo.

Por fim, muitos corredores quenianos e etíopes têm maiores concentrações de fibras musculares do tipo I, que são mais eficientes em atividades de resistência.

Essas fibras musculares são ideais para o esforço contínuo e sustentado, o que explica o desempenho superior desses atletas nas corridas de longa distância.

2. A Altitude: Uma Escola Natural de Resistência

A geografia também desempenha um papel vital no sucesso de corredores dessas regiões.

Ambos os países, Quênia e Etiópia, possuem áreas montanhosas situadas em altitudes elevadas, o que proporciona aos atletas um treinamento natural em condições de baixa quantidade de oxigênio.

Cidades como Iten, no Quênia, e Bekoji, na Etiópia, estão localizadas em altitudes que variam de 2.000 a 2.400 metros acima do nível do mar.

Correr em altitudes elevadas força o corpo a adaptar-se ao menor nível de oxigênio presente no ar.

Com o tempo, o corpo começa a produzir mais glóbulos vermelhos, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio aos músculos.

Isso resulta em uma melhoria na eficiência cardiovascular, uma característica vital para corredores de longa distância.

Quando esses atletas treinam em condições de alta altitude, eles ganham uma vantagem em competições que acontecem ao nível do mar, onde há maior disponibilidade de oxigênio.

Em resumo, viver e treinar em regiões de alta altitude transforma o corpo em uma máquina de resistência, o que explica parte do sucesso desses atletas.

3. Cultura e Estilo de Vida: A Tradição da Corrida

O aspecto cultural também é crucial para o sucesso de corredores quenianos e etíopes.

Em muitas dessas comunidades, correr é uma parte fundamental da vida cotidiana.

Para muitas crianças no Quênia e na Etiópia, correr é uma atividade natural, seja para ir à escola, ir ao trabalho ou simplesmente se deslocar por longas distâncias.

Essa atividade constante cria uma base sólida de resistência e habilidades motoras que são aprimoradas à medida que as crianças crescem.

Além disso, existe uma cultura de perseverança e orgulho associada às corridas nessas nações.

As vitórias em maratonas internacionais, como a Maratona de Berlim ou a Maratona de Boston, não apenas trazem reconhecimento e status, mas também podem mudar a vida financeira de um atleta e de sua família.

A possibilidade de ganhar uma medalha de ouro ou terminar entre os primeiros em uma competição internacional é algo que motiva gerações de corredores a se dedicarem a esse esporte.

O espírito de comunidade também contribui para o sucesso desses atletas.

Em lugares como Iten, é comum ver grupos de corredores treinando juntos, o que cria um ambiente competitivo e inspirador.

A ideia de competir e alcançar grandes realizações não é apenas um desejo individual, mas uma busca coletiva que é amplamente apoiada pelas comunidades locais.

Nesse contexto, as vitórias em corridas internacionais representam um orgulho coletivo, algo que motiva os jovens a seguir os passos dos grandes campeões.

4. Treinamento Rigoroso: Preparação Física e Mental

Os atletas quenianos e etíopes têm uma abordagem muito disciplinada e rigorosa para o treinamento.

O treinamento desses corredores é intensivo, focado não apenas na resistência, mas também na velocidade, na força e na técnica.

O ritmo dos treinos é variado, com sprints, corridas de longas distâncias e até treinamento em trilhas para simular as condições das competições.

Além disso, a recuperação também desempenha um papel importante.

Embora o treinamento seja árduo, muitos corredores da África Oriental têm o hábito de incorporar dias de descanso e treinos leves em suas rotinas.

O objetivo é evitar o overtraining e garantir que o corpo se recupere adequadamente para os desafios das competições.

A disciplina mental também é um aspecto fundamental do sucesso desses corredores.

Correr longas distâncias exige resistência não apenas do corpo, mas também da mente.

Muitos atletas quenianos e etíopes têm uma mentalidade forte, focada no objetivo de alcançar o sucesso, e são conhecidos por sua capacidade de suportar o sofrimento durante as corridas.

Essa força mental é desenvolvida ao longo do tempo, como parte de um processo de superação constante, que envolve anos de prática e experiências difíceis, seja em corridas locais ou treinamentos desafiadores.

Conclusão

O sucesso de quenianos e etíopes nas corridas de longa distância não é um acaso, mas o resultado de uma combinação de fatores que vão desde a genética, passando pela altitude natural, até o treinamento rigoroso e a forte cultura de corrida presente nessas nações.

Esses atletas não apenas têm o corpo adaptado para o esforço físico, mas também carregam em sua formação um profundo respeito pela disciplina e pela perseverança.

Cada fator, em conjunto, contribui para a dominação dessas duas nações nas competições internacionais, e, por isso, a história de sucesso de corredores quenianos e etíopes parece longe de ser um fenômeno passageiro.


Fonte de informação: ge.globo.com